Descasca essa cebola!


A cebola é uma erva anual da familia das Allioideae. Que são uma espécie de plantas da ordem das Asparagales.

Ela não tem nenhum sabor e quase nenhum cheiro até que seja cortada.

Isso quebra as estruturas celulares da cebola. Rompem-se os vacúolos, o que faz com que ela precise liberar as enzimas que geram o gosto, liberam o aroma e chegam até as lágrimas.

Se ela for preparada ao vapor, em temperatura baixa, ela vai liberar o suco lentamente e cozinhar de dentro pra fora. O que a tornará uma cebola muito mais suave, suculenta e leve.

Se for jogada numa chapa quente, seu suco será liberado imediatamente e em seguida evaporará!
A cebola poderá ficar mais seca e com leves toques de acidez, nas pontas ou nas partes que não tocarem tanto a chapa.

Para que a cebola não perca muito seus potenciais nutritivos, ela não pode ser muito cozida.

Se ela for servida crua, trará mais de seus nutrientes, e seu sabor virá carregado com agressiva acidez.
A dança pressupõe um corpo, situado num espaço e tempo, imbuído de um “estado cênico, performático”. (quando pressupomos que esta é uma dança pra ser vista)

Por vezes vamos ao teatro encontrá-la, mas com frequência trombamos com ela na rua. Eventualmente é sitepecific, ou nos espia numa galeria, mas geralmente não perde uma festa, mesmo quando é sozinha, na sala de casa.

Um evento que ocorre em grupo, duo, trio ou solo. Todo mundo dançando junto, igual ou completamente diferente.
Movimenta-se ao som da música, do silêncio, dos órgãos, dos líquidos internos, da paisagem…

Organiza-se a partir de movimentos partiturados, escritos, mas também a partir de fluxos (energéticos, de líquidos…), de designes particulares a determinados corpos, do movimento dos órgãos, dos ossos, do vento e até se desorganiza pra ser dança.

Pode ser clássica, moderna, contemporânea, “pós …”

Emerge de uma idéia, uma imagem, um conceito, do próprio “mover-se”, de outras obras, de um sentimento, de uma inquietação…tudo que há ou que é possível de ser inventado é passível de produzir dança.

Atravessada por palavras, por cenas, por cantos, por vídeos, por textos, as vezes diz de forma óbvia, as vezes contorna.

Mas sem dúvida, todo corpo dança, e por ser corpo, é capaz de saber se relacionar com ela.

Nos falta as vezes mediador, as vezes “letramento” para acompanhar, afinal, “se servida crua terá agressiva acidez”, mas uma vez restauradas as faculdades empáticas e sensíveis, qualquer um saberá saboreá-la com destreza.
FELIPETEIXEIRA E MARIANAMOLINOS